É verdade que entre os dois grupos existem camadas
médias, que costumamos chamar de "classe média". Mas esta
"classe média" não é uma classe fundamental, quer dizer, não é ela
que determina a natureza da sociedade capitalista.
Na sociedade capitalista as classes sociais
fundamentais são: a burguesia e o proletariado.
A burguesia é a classe dos donos das fábricas, das
fazendas, das minas, do grande comércio, dos bancos etc. Enfim, são os
proprietários particulares dos meios de produção, isto é, são os donos do
capital. Por isso se chamam capitalistas. Estes meios de produção constituem um
capital, porque são utilizados dentro de uma relação de exploração.
O nome ‘’burguesia’’ se deve ao fato de que, quando
esta classe se formou, no fim do feudalismo europeu, tratava-se de
comerciantes e pequenos industriais que viviam nas pequenas cidades (burgos).
Não eram nobres, nem eram mais servos que lavravam a terra nos feudos. Eram um
tipo de classe média que depois se transformou classe dominante.
O proletariado é a classe dos que, não sendo
proprietários dos meios de produção, só possuem como propriedade sua força de
trabalho, que eles vendem por certo tempo à burguesia, em troca de um salário.
É verdade que, dentro do proletariado, existem
trabalhadores que ganham mais que outros. Por exemplo: um ferramenteiro ganha
mais do que um ajudante. Mas tanto um como o outro vivem do seu trabalho e se
pararem de trabalhar, nem um nem o outro têm como sobreviver. Por isso, os
dois são proletários.
O nome proletário já era dado na antiga Roma às
pessoas que não possuíam nada, a não ser sua prole, isto é, seus próprios
filhos. No início da sociedade capitalista, o proletariado se formou de
antigos servos que saíam dos feudos e vinham para os burgos sem possuir nada, e
também de artesãos que não tinham mais condições de competir com as máquinas
dos burgueses. Assim, os proletários são homens livres em dois sentidos: não
estão mais presos aos feudos, e também não têm mais nada de seu a não ser a sua
própria força de trabalho.
Portanto, na sociedade capitalista existe uma
separação entre o capital e o trabalho. Quem trabalha diretamente não possui
os meios de produção, e quem possui os meios de produção não trabalha
diretamente. A burguesia usa a força de trabalho dos proletários para fazer
funcionar seus meios de produção, e assim produzir mercadorias para obter lucros.
Com esse lucro, além de viver com muito conforto e luxo, os burgueses melhoram
em quantidade e qualidade seus meios de produção, para produzir mais
mercadorias e obter mais lucros.
Esse processo repetido todos os dias é o processo de
acumulação de capital. O proletariado, pelo contrário, não acumula nada, vendendo-se
todos os dias no mercado de trabalho, para poder viver, ou sobreviver,
geralmente muito mal, com muitas dificuldades.
Os burgueses, portanto, contratam os proletários para
trabalhar em suas empresas, por determinado salário, durante tantas horas por
dia, e em certas condições previamente tratadas. Os trabalhadores concordam
formalmente com este "livre" contrato de trabalho.
Esse "livre" contrato de trabalho feito
individualmente, é um contrato que se faz entre duas pessoas que ocupam
posições muito diferentes dentro da sociedade. O burguês, proprietário dos
meios de produção, está numa situação privilegiada para procurar a mercadoria
força de trabalho, encontra uma abundância na oferta. Se um trabalhador não
aceita suas condições, há vários ou mais outros, concorrendo entre si, e
certamente a aceitarão. O êxodo rural que, por diversos motivos, sempre
acompanha o surgimento da produção capitalista encarrega-se de formar um
excedente de oferta de força de trabalho, um verdadeiro EXÉRCITO INDUSTRIAL DE
RESERVA.
O proletário, proprietário apenas da sua força de
trabalho, encontra-se numa posição bastante desvantajosa e fica entre a cruz e
a espada, isto é, entre a exploração do patrão e a miséria do desemprego. Esta
é a liberdade do trabalhador na sociedade capitalista. Mas, para o burguês, o
livre contrato de trabalho é uma liberdade sagrada dentro de sua economia de
livre empresa.
Estas duas classes, a dos burgueses e a dos
proletários, têm interesses que são objetivamente contrários e antagônicos,
quer dizer, INTERESSES INCONCILIÁVEIS. "Objetivamente" significa que
isto não depende da boa ou má intenção das pessoas. Os interesses destas duas
classes são inconciliáveis porque se uma ganha, a outra obrigatoriamente
perde. O que é bom para uma classe é prejudicial para a outra.
A burguesia, que tem interesse em conservar sua
situação privilegiada, tenta obscurecer o fato da divisão da sociedade em
classes de interesses inconciliáveis, acenando para a ASCENSÃO SOCIAL, dizendo
que o operário de hoje pode ser o patrão de amanhã. Mas a gente sabe que é
quase impossível para o trabalhador assalariado conseguir a quantia necessária
para montar uma pequena empresa. Além disso, mesmo que alguns operários
individualmente mudassem de classe, nem por isso deixaria de existir a divisão
da sociedade em classes de interesses inconciliáveis.
Desde que surgiu o capitalismo, muita gente percebeu
que esse sistema produz grandes desigualdades e injustiças. Perceberam também
que quanto mais a minoria burguesa vai enriquecendo, mais a maioria proletária
vai afundando na pobreza e miséria. Enfim, muitas pessoas perceberam e
denunciaram a exploração.
Mas qual é o mecanismo pelo qual se dá a exploração?
Isto não aparece logo à primeira vista. Foram necessários muito estudo e
pesquisa para responder a esta pergunta. Quem conseguiu desvendar o mistério
foi Karl Marx.
Letícia Campos, nº14
Referências
Muito esclarecedor. Parabéns.
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