Os
Cianetos (do grego κυανός (kyanós) = "de cor azul-esverdeada" + sufixo), são
compostos químicos que contém o grupo ciano -C≡N, com uma ligação tríplice
entre o átomo de carbono e o de nitrogênio. São
classificados como cianetos iônicos, ou cianetos covalentes
conforme o modo como se ligam ao resto da molécula.
Cianetos
Iônicos
Os cianetos iônicos, têm como
característica o grupamento C≡N–, ou Aníon
cianeto, associados a metais como o sódio ou o potássio. Foram no
passado denominados cianuretos, nome que persiste na tradição literária
e no uso popular São sais derivados do Cianeto de hidrogênio (HCN)
também chamado ácido cianídrico ou ácido prússico. Tanto os sais
como o ácido são conhecidos por serem altamente letais, causando uma morte
quase imediata. Entretanto, ao contrário de outros venenos, doses sub-letais
não se acumulam no organismo.
Cianetos covalentes
São compostos em que o grupamento
-C≡N é ligado covalentemente a átomos de carbono em moléculas orgânicas. São
também denominados nitrilas. São exemplos a acetonitrila, (cianeto de metila) e a fenilacetonitrila (cianeto de benzila) São isômeros dos isocianetos ou isonitrilas que contêm o grupamento -N≡C. Nenhum destes compostos exibe
o tipo de toxidez característica dos cianetos iônicos, pois o grupamento é
firmemente preso ao restante da molécula
Aspecto
O cianeto de hidrogênio é gás incolor com típico odor amargo, lembrando amêndoas. Não é seguro
utilizar o olfato para identificá-lo. Os cianetos de sódio e de potássio são
pós brancos. Um pigmento azul-profundo, chamado azul da Prússia , usado em impressões, consiste de
ferrocianeto (daí o nome cianeto, do grego kyanos, uma tonalidade
do azul) Férrico. O azul da prússia liberta cianeto de hidrogênio, sob a ação de ácidos.
Mecanismo de ação
O cianeto tem uma elevada afinidade
por metais, formando complexos com cations metálicos em locais catalíticos de várias enzimas importantes e inibindo
as suas funções como é o caso do metabolismo do glicogênio e dos lípideos.
Mas a toxicidade do cianeto é
maioritariamente devida à ligação reversível ao ferro no estado férrico (Fe (III) ou Fe3+) da enzima citocromo oxidase mitocondrial (citocromo
a-a3) da cadeia transportadora de eletrons. O citocromo a-a3 medeia a
transferência de eletrons para o oxigênio molecular, o último passo da fosforilação oxidativa. Ao bloquear esta enzima, a célula é incapaz de utilizar o oxigênio e usa um metabolismo anaeróbio reduzindo o piruvato a ácido láctico (fermentação láctica), o que resulta em anóxia tecidular e no rápido desenvolvimento de acidose láctica. Há também uma
alteração no metabolismo da célula uma vez que há uma depleção na produção de ATP. Como o oxigênio não é utilizado ao nível das células, há uma maior tensão
periférica de oxigénio uma vez que não há dissociação da oxiemoglobina, por essa razão um indivíduo com
intoxicação por cianeto fica rosado. O efeito causado pelo cianeto é denominado
hipóxia
histotóxica.[1] O efeito causado pela depleção de ATP afecta todas as
células mas o cérebro e o coração são os mais susceptíveis, pelo que após uma intoxicação
por cianeto podem ocorrer arritmias cardíacas e outras
alterações resultando numa circulação deficiente e em anóxia isquémica. A morte
pode ser resultante do dano das células que controlam a respiração ao nível do sistema nervoso central, uma vez que estas são muito sensíveis à hipóxia, provocando incapacidade
em respirar.
O cianeto é considerado uma neurotoxina específica e está frequentemente
associado a elevados níveis de cálcio celular e à inibição de antioxidantes, o que conduz à formação de
espécies reactivas de oxigénio (ROS) e consequente peroxidação
lipídica.
O mecanismo de aumento do cálcio
celular envolve a libertação do glutamato armazenado o que origina activação dos canais de cálcio sensíveis à
voltagem, activação de receptores do N-metil-D-aspartato (NMDA) e mobilização de reservas de cálcio intracelulares. Pensa-se que o
aumento do cálcio activa a protease que converte a xantina desidrogenase em xantina oxidase que na presença
de oxigênio catalisa a formação de radicais livres que iniciam a peroxidação
lipídica. A peroxidação lipídica vai provocar disfunção mitocondrial e consequente libertação do citocromo C que desencadeia mecanismos de morte
celular. Se as células forem as do sistema nervoso pode-se falar em morte
neuronal e neurodegeneração.
Sintomas
Os sintomas e sinais estão
directamente relacionados com a dose de cianeto, a via de exposição e o tipo de
composto.
Os sais de cianeto são cáusticos e pode ocorrer sensação
de queimação na língua e inflamação da mucosa gástrica após a ingestão. Em casos de inalação pode ocorrer irritação nasal.
Os cianetos podem cheirar a amêndoas
amargas, o que pode ser uma pista, mas caso não se detecte o
odor de uma substância, não significa que não tenha cianetos, porque 40 a 60%
da população não consegue detectar o odor, sendo esta anosmia determinada geneticamente .
Os sintomas propriamente ditos
começam poucos minutos após a ingestão de sais de cianeto. A exposição aguda
afecta o sistema nervoso central inicialmente estimulando-o e depois
deprimindo-o e os sintomas são dependentes da concentração administrada.
Concentrações baixas de cianetos podem produzir sintomas e sinais não
específicos como: dor de cabeça, agitação, náuseas, desmaios, vómitos, confusão e incontinência. Exposição a concentrações mais elevadas pode provocar hipertensão seguida de hipotensão, taquicardia seguida de bradicardia, dispneia, descoordenação de movimentos, convulsões, cianose, coma e disfunção
cardíaca ou respiratória que pode ser fatal. Estes sintomas são na sua maioria
resultado da hipóxia tecidular que se
instala após a intoxicação por cianeto.
A ingestão crónica de pequenas doses
pode ocorrer por ingestão de plantas ricas em glicosídeos
cianogénicos, como por exemplo a mandioca mal processada, muitas vezes associada a uma dieta com poucas proteínas e por isso deficiente
em enxofre que ajuda a destoxificar o veneno. Nestes casos, o resultado pode ser uma neuropatia denominada atáxica tropical uma vez que estas situações são mais comuns
nos trópicos, onde a mandioca é uma das plantas mais utilizadas na
alimentação. A neuropatia atáxica tropical é uma doença do sistema nervoso que
torna a pessoa instável e descoordenada.
O envenenamento grave por cianeto,
especialmente durante períodos de fome está associado com o konzo, uma paralisia irreversível e debilitante e em alguns casos com a morte.
Em certas áreas a incidência de neuropatia atáxica tropical e konzo podem
chegar aos 3%.
Os cianetos causam também
insuficiência da produção de hormonas da tiróide porque quando há ingestão de cianeto ocorre destoxificação por conversão
do cianeto em tiocianatoque é uma substância
que inibe a captação de iodo pela glândula tiróide,
impedindo-a de produzir T3 e T4 e provocando o seu aumento (bócio).
A ambilopia associada ao tabaco e a neuropatia
periférica associada à amigdalina são outras condições
provocadas pela intoxicação crónica por cianetos.
Uso Agrícola
Muitas substâncias venenosas são
usadas no combate de pragas em porões de navios e
em grandes silos onde são armazenados grãos. Geralmente o tratamento não
pode ser feito com inseticida liquido e nem com o
processo de nebulização. No lugar desses são usados compostos paradiclorofenol e cianetos, esses elementos altamente tóxicos enquanto na embalagem são
inofensivos e apresentam-se em estado sólido. A partir da abertura do lacre do
fabricante, iniciam o processo da volatilização que por motivo de segurança é
liberado algum tempo depois. Para que uma pastilha entre no estado gasoso à
temperatura ambiente, seriam necessário 3 horas, tempo suficiente para
injeta-las 20 m. No interior dos silos, como o gás é mais pesado do que o ar, é
preciso aguardar algum tempo para abertura dos silos, geralmente em torno de 24
horas após a aplicação.
Embalagem
Essas pastilhas (enquanto na
embalagem do fabricante) encontram-se protegidas do ar externo acondicionadas
no vácuo. A embalagem é um tubo de alumínio cilíndrico e possui paredes em
alumínio anodizado (resistir oxidação pelo tempo) e sua tampa de náilon possui alguns obstáculos para evitar que qualquer indivíduo retire o lacre
de segurança.
Para uso em porões de navio que
transportam grãos a granel é necessário enterrar até o fundo, três grandes
tubos destes 6x3=18 m. por m² e, depois de aberto um tubo "deve-se usar
todas as pastilhas, para então abrir-se outro tubo". Esta operação que envolve
muito risco pode ser letal ao operador.
Usos industriais
Cianetos são usados na revelação
fotográfica e na produção de plásticos, acrilato e colas instantâneas (cianoacrilato). O cianeto de ouro é usado para a douração de certos metais, a frio (sem a necessidade de processo
de eletrólise).
O cianureto é encontrado na natureza
em diversas plantas, como nas sementes lenhosas de algumas frutas, e em uma
variedade da mandioca, vulgarmente chamada de
mandioca-brava: uma planta sul-americana altamente tóxica quando in
natura, mas sua raiz é muito consumida e apreciada na forma de farinha
torrada, quando perde suas toxinas.
Cianeto como veneno
Supostamente o cianureto foi muito
utilizado em suicídios na Segunda Guerra Mundial, por espiões de ambos os lados do conflito que, ao se verem cercados por
forças inimigas, optavam por pôr termo à própria vida para não serem
capturados. A ingestão de uma dose de 0,5 a 1mg seria suficiente para matar
instantaneamente um adulto.
Nos campos de extermínio alemães da Segunda Guerra Mundial, foi usado um gás tóxico a base de cianureto, conhecido como Zyklon
B ("Ciclone B") nas câmaras de gás. Criado
originalmente como um pesticida para a eliminação de piolhos e pulgas, o Zyklon B acabou sendo usado para o extermínio
de seres humanos.
Acredita-se que o próprio Adolf Hitler possa ter suicidado-se com uma dose
de Zyklon B ("Ciclone B"), no fim da guerra, mas a verdade sobre seu
suicídio nunca foi totalmente esclarecida.
Nos Estados Unidos, cápsulas concentradas de cianureto foram a forma de aplicação da pena capital. Na câmara de gás que funcionava na
prisão de San Quentin, Estado da Califórnia, as cápsulas eram
derramadas em um balde contendo ácido, liberando os vapores mortais. Como a aspiração dos vapores provocava uma
morte dolorosa e relativamente lenta, este método de execução caiu em desuso.
Uma descrição bastante contundente da câmara de gás de San Quentin, é
encontrada nos livros escritos na prisão por Caryl Chessman, um prisioneiro condenado à morte
em 1948 e executado em 1960.
Devido à liberação de cianeto de
hidrogênio durante a queima de diversos tipos de plástico, as vítimas de
incêndios eventualmente têm como causa mortis o envenenamento por
cianureto.
Na madrugada do dia 26 de Janeiro de
2013, na cidade brasileira de Santa Maria, localizada no Estado do Rio Grande
do Sul, 241 jovens morreram vítimas de um incêndio dentro de uma boate. De
acordo com informações da perícia realizada no local, um fogo de artifício
acionado durante um show pirotécnico realizado dentro da estabelecimento entrou
em contato com espuma acústica que revestia o teto, feita de poliuretano.
O incêndio possivelmente liberou
diversos gases tóxicos, dentre os mais importantes, o cianeto, provocando a
morte de centenas de pessoas por intoxicação e asfixia. Para salvar os
sobreviventes da tragédia, o Governo dos Estados Unidos doou 140 kits de Hidroxicobalamina
(vitamina B12 injetável), antídoto para tratamento de pessoas intoxicadas com o
gás
Suicídio de
personalidades históricas
Sais de cianeto são
eventualmente usados para um suicídio instantâneo. Ao entrar em contato com os sucos digestivos, íons CN- são
liberados, paralisando o sistema nervoso e respiratório do indivíduo,
conclui-se que a ação é mais rápida se a vítima estiver de estômago vazio.
Entre as personalidades
históricas que se suicidaram com cianureto, estão:
- Adolf Hitler (há especulações que tenha usado o Cianureto, mas se matou com um tiro no crânio)
- Eva Braun (esposa de Hitler)
- Blondi (cadela pastor-alemão de Hitler, assassinada por ele, com Cianureto)
- Erwin Rommel
- Alan Turing
- Gavrillo Princip (no entanto, o cianureto tinha passado da validade, logo, provocou-lhe apenas náuseas e vômitos)
- Joseph Goebbels
- Hermann Göring
- Heinrich Himmler
- Odilo Globocnik
- Grigori Rasputin (usado na tentativa de matá-lo)
- Ramón Sampedro
- Horacio Quiroga
- Suicídio coletivo em Jonestown-Guiana, incitado pelo pregador Jim Jones, em 1978 (a substância utilizada foi uma poção a base de cianureto)
Arma química
Cianetos foram estocados em arsenais
de armas químicas, tanto na União Soviética quanto nos Estados Unidos, nas décadas de 1950 e 1960. Durante a Guerra Fria, a União
Soviética planejou o uso de cianeto de hidrogênio como uma arma de blitzkrieg
(guerra-relâmpago) para eliminar a resistência das linhas inimigas, contando
que o gás se dissiparia, permitindo posterior acesso às áreas capturadas.
Contudo, o cianeto não é considerado eficaz para uso militar, visto que é mais
leve que o ar e é necessária uma elevada dosagem para incapacitar ou matar.
Íon Cianeto, CN–1
De cima para baixo: * Estrutura de ligações de valência; * Modelo molecular; * Potencial electrostático superficial; * Forma de orbital mais alto ocupado.
De cima para baixo: * Estrutura de ligações de valência; * Modelo molecular; * Potencial electrostático superficial; * Forma de orbital mais alto ocupado.
Bruno Nunes, Assovio A Jato.
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