A toxicidade
do íon cianeto (HCN) é conhecida há mais de dois séculos; porém, os compostos
que contém cianeto são tóxicos somente se liberarem HCN numa reação. Sem dúvida
alguma, o ácido cianídrico ou ácido prússico é o veneno de ação mais rápida que
e conhece.
Muitos autores
e histórias policiais têm utilizado, em suas obras, os cianetos de sódio ou
potássio para provocar mortes misteriosas de alguns personagens. Na literatura
de espionagem, por exemplo, que esteve muito em moda a partir da 2a Guerra Mundial
até o fim da Guerra Fria, os espiões tinham uma cápsula desses sais embutida em
cavidades dentárias. Quando presos pelo inimigo, os espiões deveriam ingerir a
cápsula, a fim de evitar, pela própria morte, a revelação dos segredos durante
o interrogatório.
Quando a
cápsula atinge o estômago, o sal reage com o ácido clorídrico presente no suco
gástrico:
NaCN(s) +
HCl(aq) ⇒ HCN(g) + NaCl(aq)
Por ingestão,
a dose capaz de provocar a morte é de 1 mg por quilograma de massa corpórea.
Por inalação, uma concentração de 0,3 mg por litro de ar mata entre 3 e 4
minutos.
A ação tóxica
do HCN deve-se à sua capacidade de inibir a enzima citocromoxidade, fundamental
para as células consumirem o gás oxigênio transportado pelo sangue. O íon
cianeto provoca, então, a parada da respiração celular. Na verdade, a pessoa
acaba morrendo por asfixia, mesmo que o seu sangue esteja saturado de oxigênio.
Assim as células morrem e, se esse processo acontece rapidamente nos centros
vitais do organismo, ocorre a morte.
O tratamento
deve ser aplicado de imediato, sem perda de tempo. Em casos de absorção de
grandes quantidades desse ácido, é inútil aplicar algum tratamento que, quando
possível, consiste em injeções de soluções aquosas e nitrito de sódio e/ou
tiossulfato de sódio. Antigamente, utilizavam-se também injeções de soluções
aquosas de azul de metileno.
O ácido
cianídrico, devido à sua ação rápida, foi utilizado por muito tempo como
inseticida e raticida na fumigação de navios e, também, para eliminar toupeiras
que infestavam algumas plantações. Ainda hoje, em alguns estados dos EUA, ele é
usado nas câmaras de gás, na execução de prisioneiros condenados à morte.
Atualmente,
ele tem grande importância na síntese de vários compostos orgânicos,
principalmente da acrilonitrila (cianeto de vinila) produto muito importante na
manufatura de tecidos sintéticos.
Soluções de
cianeto são largamente utilizadas em indústrias metalúrgicas e em
eletrodeposição de metais (galvanoplastia). A descarga dessas soluções nos
esgotos, que acabam chegando às fontes de suprimento de água, pode provocar
desastres fatais. Por isso, é necessário que esse tipo de indústria faça um
tratamento rigoroso de seus dejetos, retirando deles os íons cianeto
remanescentes.
Rasputin
Em 1916, o
monge russo Rasputin sofreu uma tentativa de envenenamento por cianeto. Durante
um banquete, o príncipe Yussopoff e seus amigos ofereceram a Rasputin um pudim
contendo cianeto de potássio em quantidade suficiente para matar várias
pessoas. Embora Rasputin tenha comido grande quantidade esse pudim, ele não
morreu. Por esse motivo, e pelo fato de serem atribuídos poderes satânicos ao
monge criou-se uma lenda de sobrenaturalidade envolvendo o fato. A lenda só foi
desfeita em 1930, quando foi descoberto que alguns açúcares, como a glicose e a
sacarose, se combinam com o cianeto, formando uma substância praticamente sem
toxicidade, denominada cianídrica.
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