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sábado, 23 de março de 2013

Galáxias: “Universos-Ilhas” de Kant

                                                                          Ulisses Capozzoli
                                            Scientific American Brasil – Editor Chefe

   O artigo escrito por Ulisses Capozzoli relata que em algumas noites escuras de inverno, quando as nuvens são mais raras, a observação feita de um lugar afastado de iluminação urbana, é possível identificar estrelas de magnitude 5 a olho nu. Ao longo de todo o ano, e considerando o movimento gravitacional da Terra em torno do Sol, é possível contar por volta de 6 mil estrelas visíveis a olho nu. Pode parecer um número significativo, mas o corpo da Galáxia, ou seja, a Via Láctea, reúne pelo menos 200 bilhões de estrelas.
   No decorrer do artigo, Capozzoli pergunta várias vezes: “Mas o que é Via Láctea e o que são as galáxias como um todo?”
      Segundo ele as respostas só foram obtidas mais recentemente, por mais que, em 1755, o filósofo alemão Emmanuel Kant (1724-1804) tenha tido uma concepção sobre essas estruturas. Kant propôs que não apenas o Sistema Solar se formou de uma grande nuvem de gás, como antecipou que a Via Láctea é composta por um grande número de estrelas que batizou de “universo - ilha”.
   Mesmo que Kant tenha apresentado o seu conceito de “universo - ilha” em meados do século XVIII, estas só foram aceitas como realidade, muito tempo depois. Uma das dificuldades era a capacidade limitada dos telescópios disponíveis na época. Mesmo assim, quando mais tarde as “nebulosas” começaram a ser observadas, a situação continuou sem um total esclarecimento. Afinal, segundo Capozzoli, o que é uma nebulosa?
   Em 1936 o astrônomo Edwin P. Hubble (1889 – 1953) publicou um dos clássicos da história da cosmologia: The realm of the nebulae (O reino das nebulosas), onde demonstrava que o Universo exibia um enorme número de galáxias, algumas delas parecidas com a nossa, Via Láctea, e outras muito diferentes. Nessa época as “nebulosas” foram muito confundidas com as galáxias.
   Capozzoli relata ainda, que não apenas pelo atual desenvolvimento teórico, mas também pelas evidências observacionais, as galáxias e as nebulosas são objetos, ou, como dizem os astrônomos, “animais do zoológico cósmico”, completamente distintos. Nebulosas, na interpretação atual, são grandes nuvens de matéria interestrelar, especialmente gases e poeiras, de aspectos e composições variadas.
      Hubble também estabeleceu quatro tipos básicos de galáxias conhecidas ainda hoje: as galáxias elípticas, as lenticulares, as espirais e as irregulares. O pressuposto na base dessa classificação é que essas formas representariam estágios da evolução da vida galáctica. As espirais podem ser tanto barradas quanto não barradas. A Via Láctea, na década passada, foi reclassificada para espiral barrada, em contraponto à interpretação anterior de que seria uma não barrada.
   Capazzoli conclui o seu artigo considerando que quando Kant, um filósofo que nunca havia saido de sua cidade natal, concebeu as galáxias como “universos - ilhas”, certamente estava convicto da sua proposição. Mas talvez nunca tenha se aventurado a considerar as diversidades, as formas e características que elas exibiam no vasto e expansivo salão do Universo.

Fonte: Scientific American Brasil, Ano I – nº 5, 2010

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